Ana Pimentel
Procuradora do donatário da capitania de
São Vicente, seu marido Martim Afonso de Sousa, nasceu de família nobre
espanhola; segundo alguns autores, filha de Inês Pimentel, da casa de Benavente, e de Rui Dias Maldonado, comendador na Ordem de São Tiago; para outros, filha de Francisco Maldonado, senhor da casa das Conchas, em Salamanca, ou de Francisco Maldonado, comendador de Eliche na Ordem de Alcântara, e de Joana Pimentel. Para outros, ainda, era filha de Rui Dias Maldonado,comendador de Triana na Ordem de São Tiago, filho de Rodrigo Maldonado, natural de Talavera, doutor e grande letrado do Conselho de
Estado dos reis católicos e seu embaixador em Portugal, Navarra e França.
Ana Pimentel casou-se com o nobre português Martim Afonso de Sousa. Deste casamento teve seis filhos. Em 1532, Martim Afonso de Souza recebeu a donatário de 100 léguas em São Vicente e veio para o Brasil, comandando uma armada real para tomar posse definitiva do território em nome do rei. Sua viagem ao Brasil durou cerca de três anos e, ao voltar a Portugal, por ter aceito o cargo de capitão-mor da armada da Índia, deixou como primeiro capitão e loco-tenente da capitania o vigário Gonçalo Monteiro. A incumbência de administrar a capitania foi passada a Ana Pimentel, através de uma procuração datada de 3 de março de 1534.
Em 1536, em cumprimento a seu mandato, Ana fez uma carta de doação de sesmaria para Brás Cubas, que só tomou posse efetiva das terras em 1540. Nomeou ainda, sucessivamente, como capitão-mor da capitania de São Vicente, Antônio de Oliveira e Cristóvão de Aguiar d'Altero. Em 1544, nomeou Brás Cubas capitão-mor e ouvidor da capitania e, contrariando ordens dadas por seu marido, autorizou, a pedido de Brás Cubas, o acesso dos colonos ao planalto paulista, onde se encontravam terras mais férteis e um clima mais ameno do que no litoral. Martim Afonso de Sousa, quando proibiu os colonos de subirem a serra, pretendia evitar que portugueses se instalassem nas terras dos indígenas aliados, provocando conflitos que colocassem em perigo o projeto colonizador. Em 1546, esse zelo não era mais necessário e Ana revogou a proibição. Ainda nesse ano a Câmara da vila de Santos fez uma petição para o donatário que Ana representava para construir uma cadeia na localidade.
Providenciou o cultivo de laranja na capitania, de modo a combater o escorbuto - doença provocada pela falta de vitamina C que atacava os embarcados durante a travessia do Atlântico. Para tanto fez vir mudas de laranjeiras de Portugal. É-lhe atribuída, também, a introdução do cultivo do arroz, do trigo e da criação de gado na região.
O papel de Ana Pimentel na administração da capitania não mereceu da história oficial o reconhecimento devido e os méritos recaem geralmente sobre seu marido, que é um dos primeiros nomes que os livros de história lembram como tendo grande importância na construção do Brasil colonial.
Mas seu papel administrativo, exercido por mais de uma década, foi reconhecido pelo sociólogo Gilberto Freire, que no seu discurso de posse na Academia Pernambucana de Letras, em 11 de novembro de 1986, assim o destacou: "Não é preciso desmerecer-se o desempenho, em São
Vicente, de Martim Afonso de Sousa e da esposa ilustre para louvar-se rasgadamente o de Duarte Coelho e de Dona Brites em Pernambuco. Foram desempenhos, igualmente, pioneiros e consagradores dos casais que os praticaram com a melhor das bravuras, o maior dos destemores, omais belo dos ânimos construtivos."
Referência: SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Érico Teixeira Vital. (Orgs.). Dicionário Mulheres do Brasil de 1500 até atualidade. Biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. p.97