Carta de Manuel da Nóbrega
Em 1549, chegou ao Brasil o padre
jesuíta Manuel da Nóbrega, acompanhando a esquadra de Tomé de Sousa. Vinha com
o propósito de zelar pela vida espiritual dos súditos do rei instalados nos
trópicos, o que incluía alertar seus superiores para o comportamento desregrado
de membros da Igreja quando no Brasil e, do mesmo modo, alertar para a
moralidade que estava acontecendo entre os habitantes em matéria de
casamento.
Constatou Nóbrega que era comum a prática das uniões não
formais entre homens brancos e mulheres indígenas (chamadas de negras da
terra). Escandalizado com os costumes da sociedade colonial, Manuel da Nóbrega
escreveu ao rei de Portugal, "D. João III, solicitando que este enviasse
para o Brasil mulheres solteiras para que elas aqui se casassem."(SCHUMAHER; BRAZIL, 2000, p. 733)
O pedido de Nóbrega pretendia expandir para o Brasil a experiência que Portugal vinha empregando, com sucesso, na colonização de Goa, Índia. Contava com que fossem trazidas ao Brasil jovens órfãs, filhas de nobres que tivessem morrido a serviço da Coroa na experiência da empresa ultramarina. Sua preocupação era tão grande que foi o assunto inicial de sua carta:
"Nesta terra há um grande peccado, que é terem os homens quais todos suas Negras por mancebas, e outras livres que pedem aos Negros por mulheres, segundo o costume da terra, que é terem muitas mulheres. E estas deixam-n'as quando lhes apraz, o que é grande escandalo para a nova Egreja que o Senhor quer fundar. Todos se me escusam que não têm mulheres com que casem, e conheço eu que casariam si achasse com quem; em tanto que uma mulher, ama de um homem casado que veiu nesta armada, pelejavam sobre ella a quem a haveria por mulher, e uma escrava do Governador lhe pediam por mulher e diziam que lh'a queriam forrar. Parece-me cousa mui conveniente mandar Sua Alteza algumas mulheres que lá têm pouco remedio de casamento a estas partes, ainda que fossem erradas, porque casarão todas mui bem, com tanto que não sejam taes que de todo tenham perdido a vergonha a Deus e ao mundo. E digo que todas casarão mui bem, porque é terra muito grossa e larga, e uma planta que se faz dura dez annos aquella novidade, porque, assim como vão apanhando as raízes, plantam logo ramos, e logo arrebentam. De maneira que logo as mulheres terão remedio de vida, e estes homens remediariam suas almas, e facilmente se povoaria a terra. (SCHUMAHER; BRAZIL, 2000, p. 733) "
Referência:
SCUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital. Dicionário Mulheres. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.