Paula Siqueira

05/06/2018

Paula de Sequeira, condenada pela Inquisição nasceu em Lisboa, Portugal. Morava em Salvador, Bahia, e pertencia à elite colonial, pois seu marido era o contador da Fazenda d'El Rei. Seu nome entrou pela primeira vez nos autos da Inquisição por uma denúncia do padre Baltasar de Miranda, que a acusou de possuir livros proibidos. Um desses livros teria sido Diana, do escritor espanhol Jorge de Monte Mayor, romance pastoril de 1559, relatando o amor entre duas moças, classificado de "desonesto" pelo Index, lista de publicações vetadas a leitura pela Reforma católica do século XVI. Teria sido a própria Paula quem, dias depois de ser denunciada pela posse dos livros, resolveu procurar o Santo Ofício e confessar seu caso de amor com Felipa de Sousa. Segundo os autos, seu caso com Felipa durara um ano, embora elas já tivessem trocado cartas de amor, carícias e presentes havia mais de dois anos. Paula, porém, confessou ao visitador que elas só tiveram ajuntamento carnal em um dia, num domingo ou dia santo, e nada mais. Relatou, ainda, alguns fatos que se passaram em Lisboa, mais de 20 anos antes. Lá, ela havia experimentado certas práticas mágicas para "amansar seu marido". Mais tarde, quando já vivia no Brasil, procurou Isabel Rodrigues, a Boca-Torta, conhecida em Salvador pelos feitiços amorosos que recomendava às mulheres. As transgressões com que se envolveu lhe valeram seis dias de prisão, duas aparições públicas como ré do Santo Ofício e o pagamento de alta quantia, além de penas espirituais e abjuração na casa do Inquisidor. Foi sentenciada, em setembro de 1591, a aparecer na missa de domingo com vela na mão e cumprir as penas espirituais pela posse de livros proibidos. Apesar disto, em janeiro de 1592, recebeu mandado de prisão pelas "culpas nefandas" por ela confessadas e confirmadas na primeira sessão do interrogatório de Felipa. O fato de Paula de Sequeira ser casada com um importante funcionário da administração real e de sua conduta em nada condizer com o estereótipo de mulher branca e recatada da época, tornava-a mais evidente ao olhar do Santo Ofício, que a tratou com rigor.

Fonte: SCUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital. Dicionário Mulheres. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. pp. 743


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